Recentemente tivemos duas publicações premiadas no XXVI Prêmio Brasil de Economia.

"Moeda e Sistema Financeiro" (2019), de José Luis Oreiro, Luiz Fernando Rodrigues de Paula e Rogério Sobreira Bezerra ficou em primeiro lugar na categoria "Livros de Economia".

E, em terceiro lugar, na mesma categoria, recebeu premiação o livro "Economia Institucional e Dimsões do Desenvolvimento" (2019) de Octávio Augusto Camargo Conceição.

Confira a entrevista cedida à nossa Editora pelo professor José Oreiro. Ele fala sobre a importância desse reconhecimento e a contribuição da pesquisa para a economia e sociedade.

Qual o sentimento ao ser reconhecido nacionalmente pelo Prêmio Brasil de Economia?
É sempre uma honra e uma grande satisfação receber um dos prêmios mais importantes do Brasil na área de economia, embora já tenha recebido este mesmo prêmio em duas outras ocasiões. A primeira foi em 2010 com o livro Política Monetária, Bancos Centrais e Metas de Inflação: teoria e experiência brasileira (FGV Editora), e a segunda em 2017 com o livro Macroeconomia do Desenvolvimento: uma perspectiva keynesiana (GEN/LTC). Trata-se do reconhecimento dado pelos meus pares à excelência com a qual tenho conduzido, há mais de 20 anos, minhas pesquisas na área de economia, notadamente em Teoria Keynesiana.
Esta obra é, antes de mais nada, uma homenagem póstuma que eu e outros colegas economistas prestamos ao homem que foi nosso líder intelectual e fonte de inspiração, tanto como profissional de economia como ser humano. Cardim era um grande economista, um excelente professor e uma pessoa muito afável no trato. Seu bom humor refinado, seu conhecimento aprofundado sobre outras áreas além da economia, seu gosto por música clássica (em particular J.S. Bach) e seu posicionamento político como socialdemocrata (ele abominava tanto o liberalismo como o comunismo) o tornam um ser humano extremamente interessante. Ele exerceu sobre mim uma grande e profunda influência intelectual. Muito do que sou hoje em dia devo a ele. Fiquei muito feliz em ser um dos coorganizadores dessa obra e de que a mesma tenha sido agraciada com o Prêmio Brasil de Economia do COFECON (Conselho Federal de Economia).
De que forma o prêmio engrandece o trabalho de Fernando Cardim de Carvalho?
A obra é uma coletânea de artigos inéditos - organizada por mim e pelos meus colegas Luiz Fernando de Paula e Rogério Sobreira - de eminentes economistas brasileiros a respeito da obra intelectual de Fernando Cardim de Carvalho, professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o mais proeminente economista keynesiano brasileiro (seguidor das ideias do economista britânico John Maynard Keynes), falecido em maio de 2018 com 64 anos de idade. Trata-se de um grupo de acadêmicos de várias universidades brasileiras (UnB, Unicamp, UFMG, UFRGS, UFF, UFRJ, UFABC e UEM) que trabalharam no âmbito do Grupo de Estudos de Moeda e Sistema Financeiro, nucleado no Instituto de Economia da UFRJ, sob a liderança intelectual de Fernando Cardim ou próximo a ele.
A importância de Fernando Cardim de Carvalho para a difusão do pensamento keynesiano no Brasil justifica uma análise mais detalhada de sua vasta produção bibliográfica (63 artigos publicados em revistas científicas no Brasil e no exterior, dois livros publicados no exterior e outras dezenas de capítulos de livros); além do fato de ele ter sido o idealizador da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), da qual foi um dos patronos.
Como a pesquisa sobre o trabalho de Cardim de Carvalho pode contribuir para melhorar a economia?
Para a academia brasileira de economia, esse prêmio é uma indicação clara da importância da obra de Fernando Cardim de Carvalho, a qual precisa ser difundida entre as novas gerações de economistas. Parafraseando Isaac Newton, se eu e os demais economistas da minha geração puderam ir tão longe é porque nos apoiamos sobre os ombros de gigantes. E claramente Fernando Cardim de Carvalho foi um dos gigantes do pensamento econômico no Brasil dos últimos 30 anos.
E para a sociedade, qual a contribuição?
Acredito que a contribuição fundamental de Fernando Cardim foi a ampla difusão que ele deu ao pensamento keynesiano no Brasil, o que, no cenário de terraplanismo econômico que vivemos no Brasil, é de fundamental importância para arejar o debate macroeconômico. Se não fosse a presença de uma escola keynesiana de pensamento no Brasil, não tenho dúvida que a agenda neoliberal já teria feito muito mais estragos no país e na sociedade.
Qual o próximo passo para dar continuidade na pesquisa pós-keynesiana?
Cardim codificou a "visão de mundo" que define o programa de pesquisa pós-keynesiano. Cabe às novas gerações aplicar essa visão de mundo para a construção de modelos teóricos que possam ser testados empíricamente, com vistas à obtenção de conhecimento sólido a respeito do funcionamento das economias monetárias de produção. Será apenas por intermédio da estrita obediência ao protocolo científico que será possível prescrever políticas macroeconômicas que permitam ao Brasil e aos demais países do mundo apresentar uma trajetória robusta de crescimento econômico, com pleno emprego e redução das desigualdades sociais.