O livro Covid-19, conhecimentos compartilhados entre crianças e adultos, das professoras Aruna Noal e Giseli Duarte Bastos, será publicado em breve pela Editora UFSM e traz importantes lições tanto para as crianças quanto para os pais, no que se refere ao aprendizado e as melhores formas de lidar com os pequenos em casa. 

Desenvolvido pelo Centro de Educação da UFSM, este livro apresenta informações sobre o coronavírus, além de didáticas e maneiras de entreter as crianças em casa, especialmente durante o período de isolamento social. Ele é dedicado tanto às crianças, ao ensinar de forma simples o que é um vírus, como ele age e assim explicar o porquê de estarmos passando por esta situação de pandemia, quanto aos pais, ao apontar cuidados redobrados com as crianças neste momento, ressaltando que é importante brincar e que tudo pode ser uma brincadeira divertida para as crianças, como o ato de lavar as mãos. Este trabalho apresenta aprendizados e tratos que não se esgotam ao fim da pandemia da covid-19, mas podem permanecer na memória tanto dos “pequenos” quanto dos “grandes”.

Na sequência, você acompanha nossa entrevista com Aruna Noal.

Ed: Como surgiu o projeto do livro?

Aruna: O projeto teve início após uma provocação do professor Paulo Afonso Burmann, Reitor da UFSM, ainda na fase inicial da pandemia, do distanciamento social e da suspensão das atividades presenciais em nossa Instituição, sobre a possibilidade de encontrarmos canais de vínculo com a comunidade e de divulgação, para a comunidade externa, de conhecimentos científicos relacionados à covid-19. Nesse movimento, entrei em contato com o desenho de uma criança, Felipe, de oito anos. Ele desenhou o novo vírus de uma forma muito peculiar, repleta de simbolismos, significados provenientes de sua visão sobre o momento e o desafio que uma nova doença mundo afora despertava nele. Entrelacei essas reflexões sobre a forma de compreensão das crianças com uma proposta de trabalho desenvolvida por mim com um grupo de professoras(es) da rede municipal de ensino. Nos encontramos virtualmente, conversamos sobre o que cada um estava vivendo, e as diferentes vivências foram inspiração para escrever. A proposta inicial de um informativo que coletava desenhos de crianças transformou-se em um livro, um registro desse momento e das experiências vividas, dos conhecimentos científicos entrelaçados e de material que circulará entre crianças e adultos(as), nas escolas, nas famílias e onde mais for possível.

Ed: Qual é o papel do Centro de Educação em situações como esta?

Aruna: O Centro de Educação tem, em sua essência, a formação inicial e permanente de professores(as) e, acima de tudo, o compromisso com a Educação, com práticas reflexivas, com os direitos das crianças e dos profissionais da Educação, com as políticas públicas e educacionais, com a inclusão, com o olhar sensível às diferenças, com o compartilhamento dos conhecimentos teóricos e práticos, entre tantas outras questões políticas que nos fortalecem enquanto Unidade de Ensino. Em situações como esta, a comunidade do Centro de Educação atua de forma constante e ativa, reiterando todos os conhecimentos pedagógico-científicos, entre outros, de que dispõe, e que nos compõem, frente aos desafios que se colocam no que tange à Educação.

Ed: Para qual faixa etária a publicação é indicada?

Aruna: Por tratar-se de material direcionado para crianças e adultos(as), o texto foi escrito pensando em contemplar conhecimentos que possam ser contados para as crianças ou lidos pelas crianças. Quanto à parte direcionada aos adultos(as), contempla sugestões e reflexões voltadas às famílias e aos(às) professores(as) em relação ao momento que estamos vivendo. Ainda, a proposta é um material inspirado em algumas obras orientais, nas quais o leitor tem o livro como base para compor “junto”, ou seja, durante a leitura vai escrevendo e/ou desenhando sobre o tema abordado, sobre pesquisas adicionais ou sobre informações que complementem o que a parte textual resgata. O livro, assim, vai sendo composto entre autor e leitor, escrito e reescrito.

Ed: Qual a importância dessa leitura no ambiente familiar?

Aruna: Como defendia Paulo Freire, a leitura vai além de ler a palavra. E assim também deve ser com este livro. Ele foi pensado com comprometimento e, de forma compartilhada, foi efetivado com os recursos de que disponibilizamos neste momento. Nasceu da colaboração entre colegas. Assim também ele poderá ser interpretado por quem o ler. A leitura passa pelos detalhes, para além da parte textual. Ele só estará completo quando estiverem, nele, as anotações, as intervenções do(a) leitor(a) criança e/ou adulto(a). A proposta foi pensada desde o início para ser compartilhada, seja em casa, na rua ou na escola. Sobretudo, esperamos que a obra conduza e desperte reflexões, compartilhamento de experiências, na família, na vida cotidiana, como forma de conhecimento e de colaboração com o outro.

Ed: Como as brincadeiras podem facilitar o aprendizado e o comportamento das crianças?

Aruna: As interações e brincadeiras são eixos norteadores da organização da vida das crianças e são afirmadas e reafirmadas pelos documentos legais em vigência em nosso país. As aprendizagens, suas intuições, seus desejos e suas curiosidades são despertados pelas experiências de vida, do seu entorno, do cotidiano, por meio do brincar. Por isso, sempre que possível, precisamos pensar, enquanto adultos(as), sobre quanto tempo destinamos de nossa vida e da vida das crianças para brincar. Todo o tempo é suficiente? Que tipo de brincadeiras são propostas? Brincar é indispensável. Através do brincar, as crianças se constituem.

Ed: Quais lições do livro podem ser apreendidas mesmo após a pandemia?

Aruna: A pandemia fez emergir uma série de questões historicamente deixadas em segundo plano em nossa sociedade. As crianças compartilham conosco, adultos(as), rotinas, sonhos, objetivos, desafios e esperanças. Entretanto, nem sempre levamos em consideração suas opiniões e formas de pensar. Além disso, destacamos os conhecimentos sobre a doença, as formas de prevenção, os vírus, a importância da lavagem correta das mãos, entre outros apresentados no livro como necessários ao bem-viver e ao bem agir a partir dos desafios impostos pela nova realidade durante e pós-pandemia. Com a obra, portanto, gostaríamos de perpetuar o convite à atenção ao que a criança tem a dizer, o convite à disponibilização do tempo para o estar junto, para ouvir e para aprender e, a partir disso, criar algo novo. Ainda, a mensagem de que, para haver vida, literalmente, é necessária uma consciência de cuidado individual, com o outro e com o planeta, e que isso só é(será) possível coletiva e colaborativamente.