1) Qual é a sua formação acadêmica?
R: Minha formação acadêmica é a de Engenheiro Agrônomo, formado em 1977. Mestrado em Fitomelhoramento em 1983 e Doutorado em Produção Vegetal em 2005. Toda formação acadêmica foi feita na área de Agronomia.
2) Qual é a proposta do livro Da Antiguidade à Redescoberta das Leis de Mendel?
R: A proposta do livro é a de conhecer o processo anterior e posterior a Johann Gregor Mendel. Estuda-se, de forma geral, Mendel e o Mendelismo praticamente separado do contexto histórico. Os professores de Genética o colocam no contexto de suas disciplinas como o descobridor das leis da hereditariedade. Entretanto, esquecem-se de que ele não está sozinho e sim integrado a um período da História, onde investigadores anteriores a Mendel também trabalharam na tentativa de elucidar a hereditariedade. Da mesma forma, investigadores posteriores a Mendel tiveram seus papéis relevantes na História, todavia não da forma como os livros didáticos os colocam. São redescobridores? Questionamos, então, se realmente seus trabalhos científicos elucidam uma redescoberta e chegamos a conclusão de que, dos três redescobridores consagrados pela História, somente um teve esse papel relevante. Além disso, há outro investigador eminente no início do século XX que não é descrito como redescobridor. Entretanto, seu papel para a Ciência e para a divulgação das leis da hereditariedade foi fundamental. Por que a História da Ciência, nos livros didáticos não o colocam como redescobridor? Esse são alguns dos questionamentos que fizemos no livro, após pesquisa realizada em seus trabalhos que estão, na maioria, disponíveis na Internet.
3) O livro destina-se a qual público?
R: O público, em princípio, seria docentes da área de Genética. Após o lançamento realizado na Feira do Livro de Santa Maria, conjuntamente com outras obras, enviei vários email's para docentes de outras Universidades a fim de que adquirissem a publicação, lessem e a incluíssem em suas referências bibliográficas. Entretanto, alguns alunos meus, do Curso de Agronomia/CCR/UFSM adquiriram o livro. Inclusive um deles comentou após ler o livro que a proposta é muito boa e que deveria ter mais divulgação. Soube de pessoas que adquiriram e leram o livro, embora não sejam da área da Genética e nem mesmo do âmbito acadêmico e que apreciaram o aspecto histórico. Por fim, professores de História que já o leram me pediram maiores explicações sobre o contexto Genético e se não teria continuidade. Acredito que o público está bem diversificado, porém foi idealizado para quem tem ideia inicial do assunto.
4) Quando, como e por que surgiu a ideia de escrever Da Antiguidade à Redescoberta das Leis de Mendel?
R: A ideia surgiu nos momentos em que eu dava aulas de Genética para os acadêmicos da Agronomia e incluía na introdução do conteúdo programático como surgiu aquilo que estávamos vendo no momento. Por exemplo, quando dou aula de Genética Molecular onde se fala exclusivamente de DNA, ressalvo para os alunos que a descoberta do DNA não foi exclusivamente obra de um acaso. Coloco para eles que a ideia de uma molécula responsável pela herança das características já vinha sendo estudada muito antes do ano de 1953. Assim foi, quando chegava no momento de vermos as leis mendelianas, então me preocupava mais ainda de inserir Mendel no contexto histórico e percebi que quando falava sobre isso os alunos ficavam atentos. Esse foi o primeiro incentivo. O segundo foi um material antigo que recebi de um colega da UFPEL e grande amigo, além de ter sido meu professor em Botânica. No seu mestrado em Campinas, na disciplina de Melhoramento de Plantas, os aspecto mendeliano foi citado assim como alguns investigadores anteriores a Mendel. Esse material, escrito em máquina de escrever, ele me passou após sua aposentadoria. Guardei-o e quando surgiu a ideia de materializar esse período da História da Ciência busquei esses rascunhos, a fim de iniciar o processo de escrever o livro. Conto isso na apresentação do livro. Por fim, o estímulo que um colega de sala de professores me deu. Ele, meu colega atualmente, estudava e lia incessantemente sobre Evolução e eu pouco dominava esse tema, mas que sempre me fascinou. Então, adquiri alguns livros sobre Evolução que fosse compreendido por mim e também comecei a ler. Nesses livros Mendel e o mendelismo eram citados. Isso me deu a ideia e estudar Mendel e de colocá-lo no contexto Histórico-didático.
5) Como você vê o mercado editorial brasileiro na área de Da Antiguidade à Redescoberta das Leis de Mendel ?
R: O mercado editorial já a algum tempo vem sofrendo baixas, devido ao xerox. Os acadêmicos não têm condições de adquirirem livros, então fazem xerox dos capítulos que lhes interessam. Mas há quem compre, espero que comprem o meu livro. Por isso, temos feito a divulgação através da internet para incentivar o público universitário a adquirir o livro. Essa área, eu não a conheço muito bem, porém quando vi que os originais foram aceitos pela Editora, pensei comigo, "há mercado", pois eles têm conhecimento dessa área e aceitaram o livro não só por ser mais um publicação, mas que há mercado para consumí-lo. É isso que posso dizer sobre o mercado consumidor. Mas não pararei de fazer a divulgação onde for possível.
6) Tem planos para publicar novos livros no futuro?
R: Outra publicação está na minha meta, a de dar continuidade ao estudo. As leis de Mendel são atualíssimas e nunca foram contestadas e quem as contestou teve de voltar atrás. Então, tenho ideia de escrever sobre a utilização das leis de Mendel no período pós 1900, onde várias outras descobertas ocorreram. Outras pesquisas foram realizadas, principalmente por Willian Bateson, um dos grandes divulgadores de Mendel na Inglaterra e França. Além disso, há outro aspecto a ser considerado. Sabemos que a História avança no tempo, porém a Ciência avança por períodos. Houve um período que se foi concomitante a Mendel e que também é lecionado de forma isolada do contexto. É a descoberta das divisões celulares. Nós, professores de Genética, muitas vezes deixamos de relacionar ambos os períodos, por que? Me pergunto. Então, está na hora de fazer algo de forma que os professores de Genética e também de Biologia do ensino médio tenham em mãos a relação bastante estreita de Mendel com as descobertas microscópias. Já estamos, mesmo lentamente, a trabalhar nesse estudo.
7) O que senhor acha que a obra tem de diferente em relação a livros que tenham a mesma temática?
R: A diferença do Da antiguidade á redescoberta das Leis de Mendel está no contexto histórico dos fatos. Li livros sobre Mendel que falam de sua história de vida. Muito bons, aliás, mas deixam a desejar no contexto maior. Essa é que é a ideia principal. Onde Mendel está? Quem lhe antecedeu? O que foi feito antes para que ele (Mendel) chegasse a conclusão da hereditariedade? Como ele chegou a isso? Por que foi esquecido durante cerca de 35 anos? E foi realmente esquecido ou há citações de seu artigo em outros estudos? E o seu legado, para que serviu? Quem foram os chamados "redescobridores"? Qual foi os seus trabalhos? Que utilização deram às Leis de Mendel? Quem escreveu as Leis, não foi Mendel? As leis da hereditariedade foram sumarizadas posteriormente a redescoberta e não foram escritas por Mendel, poucos sabem disso, embora essas leis recebam o nome de Leis de Mendel.