No ano de 2015, Odailso Berté, atualmente professor do curso de Licenciatura em Dança pela UFSM, publicou, pela Editora UFSM, o livro Dança Contempop: corpos,afetos e imagens (mo)vendo-se. Nele, o autor descreve seus modos de (mo)ver-se pelos cenários das pedagogias culturais e apresenta uma instigante proposição de dança refletindo sobre como o fenômeno da estetização da cultura interpela o status das artes.

Preparamos, para você, uma entrevista com esse autor que muito disse de esclarecedor e motivador a respeito da sua obra, confira:

 

1)  Qual a sua formação acadêmica?

R: Sou Doutor em Arte e Cultura Visual (UFG), Mestre em Dança (UFBA), Especialista em Dança (UNESPAR) e Licenciado em Filosofia (UPF). A isso se soma a experiência e formação em dança contemporânea.

 

2)  Qual é a proposta do livro Dança Contempop: corpos, afetos e imagens (mo)vendo-se?

R: O livro Dança Contempop, e esse conceito/neologismo que ele apresenta – contempop (contemporâneo + pop) – trata do estudo de processos de criação de dança a partir das relações afetivas dos corpos com imagens, e nesse caso, imagens provindas da cultura pop. Nesse sentido, o livro questiona o clichê arte x mercadoria, oriundo de outro clichê dicotômico que é o arte erudita x arte popular. Esse trânsito entre diferentes imagens e produções ditas artísticas e populares se dá por meio dos meus afetos com imagens da pintora mexicana Frida Kahlo, da coreógrafa alemã Pina Bausch e da cantora norte-americana Madonna. A proposição da dança contempop busca refletir sobre o fazer-pensar dança na contemporaneidade através de um diálogo crítico e criativo com as diferentes formas dos corpos se relacionarem com produtos, imagens, danças vindas da cultura pop, da mídia e das artes. Nesse sentido, a dança contempop propõe caminhos para o ensino e a criação de modos de dançar que se aproximem das experiências e dos afetos dos corpos que dançam e que veem dança. 

 

3)  Quais os canais de divulgação que o livro atinge? O livro destina-se a qual público?

R: Penso que diferentes públicos interessados em dança, arte, mídia, estudos culturais, cultura pop, performatividade e gênero podem tirar proveito do livro Dança Contempop. É um obra que destina-se a artistas, performers, pesquisadores e professores. Todavia, a forma narrativa e autobiográfica com que a escrita é desenvolvida pode cativar diferentes pessoas que tenham interesse em temas como experiências de vida, estudos do corpo, afetos e ainda afinidades ou curiosidades acerca das artistas Frida Kahlo, Pina Bausch e Madonna.

 

4)  Quando, como e por que surgiu a ideia de escrever a obra Dança Contempop: corpos, afetos e imagens (mo)vendo-se?

R: Dança Contempop surge de minhas experiências e pesquisas nas áreas da Dança e da Cultura Visual, no período de 2010 a 2015, vividas nas cidades de Santo Ângelo/RS, Salvador/BA e Goiânia/GO. As imagens e produções das artistas Frida Kahlo, Pina Bausch e Madonna sempre foram muito influentes em minha trajetória como professor de dança e coreógrafo. Em dado momento, tramar essas influências e afeições, de modo mais explícito, aos meus modos de dançar tornou-se importante e imprescindível. Foi então que tornei essa experiência tema de pesquisa no sentido de investigar na teoria e na prática possibilidades de fazer-pensar dança através das experiências e dos afetos dos corpos... E disso surgiu o que tenho chamado de dança contempop.

 

5)  Como você vê o mercado editorial brasileiro na área do livro Dança Contempop: corpos, afetos e imagens (mo)vendo-se?

R: A dança e os estudos do corpo são campos de saber que ainda requerem mais publicações de estudos, pesquisas e experiências para contribuir na ampliação de sua massa crítica, na formação de seus profissionais e pesquisadores e na sua consolidação como área de conhecimento. No meio acadêmico a dança é ainda uma área recente e requer a (re)construção constante de seus arcabouços teóricos e de suas possibilidades epistêmicas. A diversificação de publicações na área da dança é um importante instrumental para fomentar a leitura, a pesquisa, a formação e o compartilhamento de ideias entre os sujeitos específicos dessa área e outros. Almejo que o livro Dança Contempop sensibilize e movimente o mercado editorial no campo da dança e faça sentido, provoque reflexões e criações no cotidiano de artistas, pesquisadores ou não.

 

6)  Tem planos para publicar novos livros no futuro?

R: Sim, tenho. E dois motivos muito fortes vêm impulsionando-me para isso: o primeiro, uma recente viagem à Cidade do México que possibilitou-me conhecer a casa e obras de Frida Kahlo bem como artistas mexicanos, da dança e do teatro, que trabalham com referências dessa artista; o segundo, o processo de criação do espetáculo de dança “Me Kahlo Sashay Away”, de minha autoria com a participação de alunos/dançarinos do Curso de Dança – Licenciatura da UFSM e outros artistas. Essas experiências têm provocado amadurecimentos e uma perspectiva de aprofundamento do conceito “contempop” em suas contribuições para o campo da dança e outras artes.


7) O que senhor acha que a obra tem de diferente em relação a livros que tenham a mesma temática?

R: Ao propor o entrecruzamento de dança contemporânea com cultura pop, o livro já declara sua posição e política estética não convencional. Pode parecer simples dizer isso, todavia, tal propósito mexe com questões da tradição artística que há séculos pesam sobre nossos modos de ver, compreender, fazer e ensinar arte e, especificamente, dança. Ou seja, não se trata apenas de outra invenção no mercado artístico, mas de uma proposição de modos de fazer-pensar dança e entender o corpo que lança perspectivas diferentes de visões dicotômicas e elitistas orquestradas por certas correntes da filosofia ocidental e sistemas estéticos modernistas. Penso que não são muitos os livros que, deliberadamente, assumem reflexões a partir de experiências, quanto menos a partir dos afetos. Dança Contempop têm essa perspectiva como seu princípio condutor, toda a reflexão nele desenvolvida vem tramada de experiências, afetos e imagens. Sua linguagem narrativa e autobiográfica evidencia o enlace teoria e prática e almeja cativar e estimular a percepção do leitor à medida que vai refletindo com imagens, narrando histórias, contrastando experiências, tramando diálogos e discussões entre autores e conceitos.

 

7)  Qual o nicho de mercado que o seu livro se direciona?

R: O livro Dança Contempop se direciona aos nichos da criação artística, do ensino e da pesquisa em dança, envolvendo o campo da dança com as artes cênicas e visuais, os estudos culturais e midiáticos, do corpo e de gênero. Sua estrutura narrativa e autobiográfica também pode despertar interesses e curiosidades acerca de temas como cultura pop, experiências de vida, afetividade e sobre as artistas Frida Kahlo, Pina Bausch e Madonna.