Elaine Schmidlin atua como pesquisadora no grupo “Entre Paisagens”, em experimentações com a filosofia da diferença, a arte e a educação. É Doutora em Educação pelo CED/UFSC, professora do Programa de Pós-Graduação e no curso de Licenciatura em Artes Visuais no CEART/UDESC. Concedeu entrevista acerca de seu livro lançado pela Editora UFSM na última Feira do Livro de Santa Maria, intitulado Paisagens: educação e arte na impermanência da margem.
Editora UFSM: Como surgiu a metáfora de que conhecimento constituía uma paisagem?
Elaine: Este livro traz acontecimentos que ocorrem entre arte e educação, propondo, na escrita, composições com a literatura e a filosofia. Nessa passagem entre margens territoriais tão profundamente marcadas como a arte e a educação, surgem as paisagens como aparições, que reconfiguram as fronteiras entre as duas áreas. Essas aparições seriam paisagens que, longe de uma representação da natureza, se aproximam da nomenclatura “landscape”, ou seja, aquilo que sempre escapa. Desse modo, muito mais que uma metáfora para um conhecimento, a paisagem seria algo que está sempre se metamorfoseando, termo que considero mais apropriado ao texto, uma vez que utilizo a impermanência como proposição de um pensamento à deriva que se abre às forças do fora, ao acaso e ao devir dos seus encontros e, portanto, à diferença.
Editora UFSM: Como aconteceu o processo de escolha dos cartões postais para a circulação entre pesquisadores e artistas?
Elaine: Esta escolha recaiu sobre a potência do formato cartão postal para a pesquisa, que pretendia ativar outros modos de olhar a docência em arte: não como forma representativa, mas como percurso em movimento que deve se delinear cotidianamente. Essa também foi uma escolha do grupo participante, uma vez que permitia a possibilidade da experiência do deslocamento e da espera dos postais, o que acabou por se constituir em uma rede de trajetos que contribuiu efetivamente para a construção do diagrama do texto.
Editora UFSM: Em sua percepção, de que forma de arte transmite mais conhecimento para o espectador?
Elaine: Creio que essa pergunta seja difícil de responder de uma única maneira, mas vou tentar respondê-la a partir do que entendo como arte. Esta, para Gilles Deleuze e Felix Guatarri, é um bloco de sensações que se compõe de perceptos e afectos. Arte, então, não seria a percepção de uma forma representativa, mas sim um conjunto de forças que afetam aqueles que dela se aproximam. Desse modo, sensação e percepção se colidem para o artista inventar “um povo que falta”, como diz Deleuze. Quanto ao espectador, é preciso que ele a experimente e se deixe atravessar pela força da arte, que, muito mais que conhecer, nos propõe sentir, algo raro nos dias de hoje.